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Lloyd Hoyt

Trabalhei por quase uma década em uma agência da qual você jamais ouviu falar. Uma agência especial. Uma agência de experiências. Experiências incomuns para pessoas super-ricas. O que fazíamos? Bem, são muitas as histórias que posso contar. Hoje eu quero falar de um dos nossos clientes, o Sr Lloyd Hoyt.

Quando Lloyd nasceu já tinha em seu nome cinco contas bancárias em cinco diferentes paraísos fiscais. Em cada uma das contas uma soma infinita de dinheiro. Teve uma infância esquisita em um internato que mais parecia uma seita. Aos 16 anos de idade, assumiu uma subsidiária da Hoyt, companhia da sua família. Aos 21 assumiu o cargo de CEO do grupo. Aproxima-se dos 40 anos e tem convicção de que viverá pelo menos 120.

Como definir Lloyd? Bem, é fácil. Sovina.

Sob o comando de Lloyd, a empresa Lloyd Hoyt (fundada pelo seu tataravô) expandiu suas operações para quarenta e três países. Especialmente seu braço de transportes e maquinário pesado. Conduzindo sua equipe com mão de ferro, Lloyd dizia com todas as palavras que deveriam sempre pagar menos e exigir mais dos funcionários. Paguem o menos possível! Explorem estes cachorros! Palavras dele. Orgulhava-se por ser conhecido como um explorador do terceiro mundo.

E por que Lloyd fazia isso? Bem, ele tinha prazeres peculiares.

Existe um restaurante nos confins gelados da Finlândia que serve a carne de um boi especial. Este boi tem uma vida melhor que a de noventa e nove porcento da população mundial. Palavras do proprietário. Nossos bois recebem um nome quando nascem, e até 25 minutos antes de chegarem no prato dos nossos clientes eles são massageados e beijados ininterruptamente. Então os matamos com um método mais humano que a morte mais humana que existe. É tão incrível que o boi não percebe que morreu. Ele continua a pensar que está vivo. Acreditamos nisso. Acreditamos tanto que o boi continua vivo, que esta é a única carne vegana de todo o planeta. (Gesticulando no ar, exaltado).

Um bife deste tipo custa US$ 60,000. “Deste”, não. Estamos falando de William Shawn Hart, nascido no dia 13 de março de 2016. Filho de Leonard Hart e Alexia Mavica Stein. Comidos, respectivamente, por, Bïmayo Brïun (ditador asiático) e Steinv Vitriovich (bilionário russo).

E para beber? Lloyd sabia exatamente qual era o melhor acompanhamento para este bife. Um bom vinho romano.

Quando os arqueólogos fizeram a incrível descoberta de milhares de garrafas de vinho romano, alguém em algum lugar os mandou calar. Nenhum estudo pode ser publicado. Os vinhos não iriam para museu coisa alguma. Seriam vendidos a quem pagasse mais.

Por módicos US$ 250,000 cada garrafa.

É claro que análises químicas comprovaram que se tratava de um líquido impróprio para consumo humano. Mas a singularidade daquele produto atraia mesmo assim os curiosos super-ricos que não tinham onde enfiar seus dólares.

Descobriram que o vinho romano causava dores de cabeça intensas e vômitos. Um dos associados donos do lote achou que o empreendimento não funcionaria. O outro sócio, ficou calmo e rotulou a bebida como uma experiência mística que somente o vinho romano poderia propiciar. E dobrou o preço de cada garrafa.

É para comer o boi Willian, enquanto degusta vinho romano, que Lloyd Hoyt explora o terceiro mundo. Sem dó e sem remorso.

Ao chegar no restaurante, Lloyd foi recebido com pompa. Três músicos faziam soar alguma coisa de Handel no ambiente enquanto o maître dirigia Lloyd para a única mesa. A mesa ficava no centro do pequeno salão, iluminada por um spot único de luz.

Podemos começar? Indagou o maître. Lloyd fez que sim com um gesto de cabeça. Uma tela rolou silenciosa na escuridão em sua frente. A luz brotou nela. Passava um filme com fotos da vida do boi Willian Shawn Hart. Os músicos continuavam.

O filme terminou com um texto em holandês em que se podia ler — se você soubesse holandês — “obrigado por me comer”. No fundo uma foto do alegre boi, produzida na manhã daquele mesmo dia. A tela subiu.

Dois garçons se aproximaram. Um serviu o bife do boi William. O outro serviu o vinho romano.

O maître se aproximou em seguida e detalhou que ao boi William havia sido mostrada a foto de Lloyd, e que William sorria ao vê-lo. O sommelier veio em seguida, para explicar sobre a origem do vinho de 1300 anos.

Lloyd Hoyt comeu e bebeu. Alguns minutos depois estava vomitando graciosamente na vomitadeira de ouro que o garçom segurava ao seu lado. Terminava de golfar, e então outro garçom puxava a toalhinha bordada com detalhes em ouro e limpava a beirada da boca dele.

No outro dia, Lloyd estava no seu escritório. Tinha uma reunião importante, que marcara para exigir de seus diretores um aumento na margem de lucro, nos países para os quais recém haviam expandido as operações.

Como eu sei disso? O próprio Lloyd me ligou depois desta reunião. Agradeceu pela reserva do restaurante, que eu havia feito. William estava uma delícia. O vinho romano me trouxe vômitos incríveis. Foram suas palavras. Reserve-me outra experiência para o próximo final de semana. Ordenou.

Havia duas novas opções para Lloyd:

Explodir Icebergs no Ártico ou Caçar Humanos na Tundra.

O que você escolheria?

2018-07-18 10:39:53