Para Einstein as descobertas da física quântica deveriam estar erradas porque violavam alguns dos princípios em que ele acreditava (princípios que provavelmente o ajudaram a construir suas teorias).
O princípio mais famoso que a física
quântica jurou de morte foi o da
localidade. É possível (numerosos experimentos já comprovaram) que
uma partícula pode influenciar outra a distância sem que qualquer
informação viaje entre as duas. Isso é comunicação mais rápida que a
luz, e como nada poderia viajar mais rápido que a luz devido a própria
natureza do Universo, Einstein dizia que isso era uma \”estranha ação
fantasmagórica a distância\”. Mas tem outra coisa que a física quântica
salvou: o livro arbítrio.
Da previsibilidade à incerteza
No Universo de Einstein, se você conhecer todas as partículas e todos os
seus momentos, conseguirá prever o estado seguinte do Universo. Isso
significa que se você conhecer o estado completo do Universo poderá
prever as ações de um ser humano, sendo assim, seríamos desprovidos de
escolha. Tudo já \”está escrito\” desde que se deu o Big Bang, o
início do Universo. A física quântica – que poderia muito acertadamente
ser chamada de física estranha – tem outro princípio assustador, o
Princípio da Incerteza de
Heisenberg. Este diz que é impossível conhecer a posição e o
momento de uma partícula, se sabe-se um, perde-se a segunda informação.
Ou seja, em um Universo quântico aceitamos o fato de que não temos como
saber o estado seguinte do Universo porque este não pode ser medido em
sua totalidade. O importante aqui é ver a distinção entre o Universo de
Einstein, em que estados anteriores determinam estados futuros, e o
Universo quântico no qual isso não acontece.
Prisão aleatória
Porém, a mera qualidade probabilística da física quântica não prevê
que temos livre arbítrio. Nossos pensamentos dentro de nossas cabeças,
que antes seriam ordenados e passíveis de previsão, se tornam aleatórios
e impossíveis de prever, contudo, permanece a nossa falta de controle
deste processo. Seríamos apenas seres geradores de aleatoriedade.
Autômatos não menos cegos que no Universo determinista clássico.
Chave mágica
Mas talvez tenhamos uma chave especial em nosso cérebro, em nossa
consciência, que nos permita de alguma forma influenciar o processo
quântico de probabilidades. Até hoje se sabe pouco sobre a consciência
humana e sobre como é o funcionamento do cérebro animal. Tem-se
sugestões, a maioria baseada em medições das correntes elétricas
cerebrais, de como são e funcionam as coisas dentro da nossa cabeça. É
possível que algum misterioso processo mental possa influenciar para
mais ou para menos uma probabilidade de pensar em A ou B? Se nos
experimentos os cientistas afirmam que medir uma partícula afeta o
sistema quântico, porque nosso cérebro não poderia fazer algo nesse
sentido?
De galho em galho
Imaginemos uma árvore de pensamentos. Ao pensar em A, você abre a
possibilidade de pensar em AB ou AC ou AD. Ao escolher pensar em uma
dessas possibilidades, digamos, AC, você abre outro nó de escolhas: ACA,
ACB, ACC. E assim por diante, sempre que um \”galho\”, um caminho da
árvore é escolhido, novos caminhos vão se abrindo em seguida.
Esta
ideia de uma árvore de pensamentos pode existir normalmente no Universo
quântico em que não tenhamos um dispositivo cerebral capaz de interferir
no processo. Não poderá existir no Universo
determinista, pois o caminho da árvore já está definido, apenas
percorreríamos o que já estava traçado desde o início dos tempos.
Voltando ao Universo quântico em que tenhamos algo de especial em nosso
cérebro animal, algo que nos permita puxar as probabilidades para cá ou
para lá conforme nossa vontade ou outros fatores: a árvore de
pensamentos é uma possibilidade. Nessa analogia podemos encaixar a
capacidade única humana de \”imaginar\” o futuro ou coisas que não
existem. Seria como \”prever\” um nó da árvore de pensamentos que
está lá ou não está. Então procedemos a executar pensamentos e escolher
galho após galho tendo como norte um nó imaginado. Talvez daí a
capacidade tão avançada do Homo Sapiens frente as outras espécies. Não
que outras espécies não tenham este artefato da árvore de pensamento,
talvez só não consigam – e não se importem – em imaginar nós futuros e
fazer esforço mental em busca deles. E sem esse detalhe fundamental,
vivem a mercê da aleatoriedade.
Portabilidade
Então imaginemos uma complexa árvore de pensamentos, por exemplo:
Relatividade Geral de Einstein. Einstein se pôs a pensar a partir de
alguns postulados para construir uma árvore de pensamento que
desenvolveu-se até o ponto da elaboração da Teoria da Relatividade
Geral. Quantos serão os galhos quebrados na cabeça de Einstein quando
este encontrava becos sem saída? Então imagine que ele pulava para outro
pensamento anterior ou vizinho e continuava o seu desenvolvimento a
partir deste. Ao fim do árduo trabalho de raciocínio, Einstein encontrou
um caminho frutífero a um pensamento original: a Teoria da Relatividade
Geral. E agora, de posse do caminho de raciocínio que o fez atravessar
toda a árvore, ele pode usar a linguagem para informar a outros seres
humanos como chegar até lá. Os outros não precisam elaborar a
gigantesca árvore de pensamentos que Einstein elaborou em sua cabeça,
basta que entendam o caminho específico de galhos que levou ao sucesso.
Então a linguagem seria uma forma de compartilhar caminhos nestas
árvores de pensamentos. Uns tipos de linguagem seriam mais
especializados que outros na tarefa de percorrer os galhos ou criar
uma nova árvore. O maior exemplo com certeza é a Matemática, que permite
uma exploração mental a partir de uma conotação simples. Seria como se
esta linguagem permitisse ao seu conhecedor explorar mais galhos em
menos tempo, e melhor: entrar em menos \”galhos sem saída\” do que um
explorador que não a utilize.
Teremos escolha?
Num Universo em que nosso cérebro passa ao largo das estranhezas
quânticas, não temos qualquer livre arbítrio e o futuro já está
escrito. Num Universo em que nosso cérebro opera no reino quântico,
o futuro é incerto, mas quanto ao livre arbítrio surgem duas
possibilidades: A primeira é que não temos uma ferramenta que nos
permite ativamente alterar as probabilidades. Nesse caso não há livre
arbítrio. A segunda é que temos uma ferramenta capaz de alterar as
probabilidades em qualquer grau. Neste caso, nosso esforço mental em
pensar isso ou aquilo tem frutos, e consequentemente, temos livre
arbítrio.
Para quem quer saber mais
Looking Glass Universe (em
inglês) Canal no YouTube que explica física quântica de um jeito
simples (pelo menos o mais simples possível).
Einstein. Sua Vida, Seu Universo – Walter
Isaacson
Biografia do gênio mais icônico da história.
O Tecido do Cosmo – Brian
Greene Um
apanhado desde os primórdios da física até os desenvolvimentos das
Teorias das Cordas. Com metáforas que explicam a relatividade em
Springfield (sim, Os Simpsons), Greene torna fácil de entender os
conceitos complicados para leigos.
50 Ideias de Física Quântica – Joanne
Baker Os
principais conceitos de Física Quântica mostrados de uma maneira
extremamente simples. Leitura fácil e agradável.
2018-06-01 09:58:55